Opinião

A Saúde em segundo plano

Na última sessão plenária, decorrida em julho na Assembleia Legislativa Regional, o Grupo Parlamentar do PS Açores promoveu uma sessão de perguntas ao Governo Regional com resposta oral sobre a saúde, onde foram apresentadas situações concretas que evidenciam sinais de degradação do Serviço Regional de Saúde que preocupam o maior partido da oposição e para as quais se impunham os devidos e necessários esclarecimentos por parte do Governo, mas que infelizmente (mais uma vez) não se obtiveram.

No passado dia 31 de julho, foi notícia na comunicação social que a falta de lugares nos voos da SATA estava a dificultar a saída dos doentes das ilhas sem hospital, sendo dado o exemplo de uma mulher que, com três fraturas numa perna, teve de aguardar dois dias para conseguir sair da ilha Graciosa. Na altura, o Secretário Regional da Saúde e Desporto, quando confrontado pela comunicação social, preferiu "não se pronunciar sobre o assunto".

Nem se pronunciou o Secretário Regional da Saúde e Desporto, como não se pronunciou qualquer outro membro do Governo Regional.

O Presidente do Governo Regional não poderia falar sobre o assunto porque foi de férias e pediu aos microfones da RTP/Açores para não ser incomodado...

Portanto, o maior acionista da SATA - o Governo Regional - sobre uma matéria que teria a obrigação de no imediato esclarecer, se não mesmo resolver, preferiu remeter-se ao silêncio e perante a exposição pública de uma filha de uma doente, nada disse.

Para os partidos da oposição esta postura e comportamento perante a confrontação com a realidade não é novidade. O Governo simplesmente não responde. Contudo, o que agrava esta situação é a preferência pela omissão e pela inação no caso da SATA, por comparação com o caso da TAP.

Ou seja, perante uma queixa pública da filha de uma doente que, com três fraturas numa perna, não conseguiu sair da ilha Graciosa por indisponibilidade da SATA, o Governo nada disse, contudo, esta semana vem o Secretário Regional da Saúde e Desporto escrever uma carta ao Presidente do Conselho de Administração da TAP a considerar inaceitável o não embarque de doentes da Região com destino a território continental?

É lamentável que o Secretário Regional da Saúde e Desporto tenha politizado uma questão tão importante como esta.

Esta foi uma das situações mais recentes e que vai ao encontro do que o PS já vem confrontando o Governo Regional e sem qualquer resposta.

Mas o mês de agosto teve mais situações que corroboram a preocupação do PS e a necessidade de esclarecimentos e de resposta por parte do Governo Regional.

Darei apenas mais duas, ambas relatadas oportunamente neste jornal.

A primeira relacionada com a falta de resposta aos doentes oncológicos por parte do Hospital do Santo Espírito da Ilha Terceira (HSEIT). Depois do Hospital do Divino Espírito Santo de Ponta Delgada, agora é o HSEIT a ter problemas nas respostas às necessidades dos doentes oncológicos. Desta feita, por falta de médicos oncologistas, devido a uma infeliz conjugação de férias e de baixas médicas. Mais uma vez, a comunicação social procurou esclarecimentos, mas, tal como o PS, também não obteve resposta.

Nisto, continua um doente diagnosticado há um mês com cancro de pulmão à espera de ser chamado...

À imagem deste Governo, a direção clínica do HSEIT foi de férias e, na sua substituição, a direção só dava respostas nos dias úteis, entre as 9H00 e as 17H00. Isto é com cada uma que não faz lembrar ao diabo!

A segunda, relacionada com o aumento inexplicável da mortalidade nos Açores. Nos primeiros sete meses deste ano, morreram 1.701 pessoas, quando no mesmo período, entre 2019 e 2021, tivemos 1.366, 1.423 e 1.361, respetivamente. Alguém ouviu o Secretário Regional da Saúde e Desporto ou o Diretor Regional da Saúde falar sobre isto? Nada.

Nada, porque o discurso de que todos os males da saúde nos Açores vêm dos anos da governação socialista, do trabalho incansável de dia e de noite, da diminuição da lista de espera para cirurgia, de que este Governo está a encontrar soluções para os problemas, está a evidenciar-se junto da população como um conjunto de inverdades.

Senão vejamos: de que serve ao cidadão o Governo dizer que "trabalha de dia e de noite", se permite que a direção clínica do HSEIT só esteja disponível de segunda à sexta-feira, das 9h00 às 17h00? De que serve ao cidadão o Governo dizer que diminuiu a lista de espera para cirurgia se retirou utentes em lista por via do cancelamento histórico (e inexplicável devido à COVID-19, pois quando muito poder-se-ia dizer que foram adiadas) de mais de três mil cirurgias em 2021? De que serve ao cidadão o Governo dizer que está a encontrar soluções para os problemas, quando na verdade está a arranjar mais problemas, como no exemplo do Corvo?

Por tudo isto é que este Governo não deixa assistir qualquer pessoa às suas conferências, supostamente públicas, falsamente apresentadas como iniciativas abertas, de escuta humilde e democrática.

Por tudo isto é que simples cidadãos, por "postarem" algo no Facebook ou por terem um simples comportamento público, são contactados e chamados por elementos do executivo e/ou ligados ao executivo dos diferentes departamentos deste Governo para terem uma "conversinha" (o caso do Comandante Lizuarte Machado o que terá de único será apenas o facto de ter vindo a público).
Por tudo isto este Governo e a tutela da saúde deixam a Saúde em segundo plano.

Postscriptum: diz a sabedoria popular que mais depressa se apanha um mentiroso que um coxo. Contactado e questionado sobre a minha ausência no Fórum Saúde 2030, referi que tal se ficou a dever à não resposta ao meu pedido de inscrição. Para que se registe, deixo cópia do mesmo.